INTENSAS CRIATURAS EM SEUS INFINITOS DEVIRES

A expressão usada por Mário Pedrosa para definir a arte e o fazer do artista contemporâneo - "exercício experimental da liberdade" - resume muito bem a pesquisa de Claudia Lewinsohn. Este livro, e o processo de criação sobre o qual ele se constrói, coloca a liberdade no próprio corpo da linguagem. O trabalho denominado Criaturas, desenvolvido pela autora enquanto artista plástica, se desdobrou neste vigoroso estudo crítico no qual encontramos um profundo e profícuo diálogo entre o fazer artístico e o pensamento filosófico.O estudo incorpora o conceito de "devir", de Heráclito, sob a ótica de Gilles Deleuze e Félix Guatarri, e noções extraídas de pensadores contemporâneos, especialmente Gaston Bachelard e Walter Benjamin, para acompanhar a dinâmica de um work in progress (trabalho em progresso), caracterizada pela dilética construção/desconstrução em seu ininterrupto movimento de fazer-desfazer-refazer.Assim, a pesquisa da Claudia penetra no âmago de uma questão central da arte contemporânea que é o rompimento das fronteiras entre diferentes linguagens artísticas. Neste sentido, trata-se de uma contribuição fundamental para artistas e estudiosos da arte interessados em pensar as possibilidades expressivas abertas pelas novas tecnologias da imagem, sobretudo os vídeos digitais.Há uma integridade, no sentido forte do termo, no processo de criação da Claudia, que advém de seu desprendimento em relação a noções como "obra" e "forma". Sua criação não visa a um sentido previamente determinado, um telos; em sua indeterminação o processo transposto no livro escorre e pulsa como a própria vida em seu desejo de afirmação. Através deste pulsar a autora leva os leitores a questionar os limites e sentidos da arte e o poder do artista.(Martha D'Angelo)