DESLOCAMENTOS

Lucília de Almeida Neves Delgado são muitas: historiadora premiadíssima por sua obra ensaística, pintora inspirada e poeta delicada. Assim como seus livros anteriores – Jardim do tempo, Amor e asas e Noites solares – já antecipavam, ela se dá o direito de atenuar as preocupações políticas, históricas e sociais para registar sua vertente mais subjetiva e emocional em seu novo livro, Deslocamentos. Apelando à memória, à nostalgia da infância, à passagem inexorável do tempo, ao erotismo elegante, aos limites da existência, aos medos, aos sonhos, às possibilidades da liberdade, ela deixa explodir toda a sua mineiridade. Estão lá em seus versos o odor da manga, as flores das jabuticabeiras, a canjica, o angu, o torresmo, a goiabada com queijo, o pé de moleque, as sanfonas, os quentões, as procissões, as pétalas nos tapetes, os sinos e as cidades mineiras. Mas não se trata de folclore. Em tudo há reflexões profundas sobre a velhice e o amor; sobre a infância; sobre identidade; sobre a passagem do tempo; sobre a sustentabilidade. Como afirma Octávio Paz, Lucília é testemunha de que a alma poética, no diálogo com o mundo, move-se da solidão para a comunhão com os outros. Assim ela nos convida a usufruir seus intensos Deslocamentos. Lucília Garcez, escritora