MEMORIAS DEVASSAS - JA QUE ME MATARAM, RESOLVI CONTAR TUDO

Algumas pessoas já nascem com o prazo de validade vencido. Vivem como se estivessem nos acréscimos, o mínimo aceitável é tudo. Hank, personagem do romance de estreia de Luciano Traldi, é um (im)perfeito exemplar dessa espécie que nunca viverá a dúvida se deve ou nao tingir os cabelos brancos. Se é para babar que seja agora. Em cima das mulheres desavisadas que lhe cruzam o caminho - ou a rua ou passarela ou aquele abençoadamente estreito corredor. O preço é jamais conhecer os netos, a vantagem é jamais reconhecer os filhos. Hank vai esgarçando os limites da sorte, desdenhando o bom-senso. Não vai alegar que a morte o surpreendeu: nao ter vergonha é uma coisa, cinismo já é muita safadeza. As balas daquele 38 com certeza já saíram de fábrica com o seu nome, CPF e CEP. O que lhe resta agora, enquanto aguarda a última gota de sangue se esvair rumo ao ralo mais próximo, é olhar para as suas cagadas ( cagadas sim, não é justo agora que está chafurdando na bosta eterna que vai ficar de merda) e tentar identificar o segundo culpado pela sua saída definitiva de cena. O primeiro, bem sabe ele, atendia pelo nome de Hank.