SOB O VÉU DO ESQUECIMENTO

Há um conflito de duas grandes potências que, ao se digladiarem, moldam e definem o que somos. Por um lado, o impulso do passado e, por outro, o futuro imprevisível. Com a natividade, somos lançados exatamente no espaço onde se estabelece o conflito entre essas duas grandes potências. Passamos a ser empurrados para a frente pela herança do passado, cujo valor e cujo significado não temos a menor noção do que sejam. Herdamos um valioso tesouro e sequer sabemos o que fazer com ele. Em meio a essa incerteza, nos deparamos com a imprevisibilidade do futuro, a potência de força contrária à do passado. Ficamos, de certa maneira, perdidos no exato ponto onde se dá esse conflito. Por não entendermos a herança que herdamos e, tampouco aceitarmos a imprevisibilidade que se nos impõe de um futuro que nos escapa, nos apegamos às improfícuas memórias das escolhas que fizemos e às inúteis ações que praticamos, tentando nos projetar para um futuro sobre o qual não temos o menor controle. O que somos e o que deixamos de ser depende do quão compreendemos e aceitamos essas duas potências: passado e futuro. Enquanto tentamos entender o que e quem somos, a morte sempre ficará à espreita.