Sinopse
Parece haver um desencontro entre o poeta e o mundo. Embora essa frase já soe como um clichê, esse desentendimento é que cria a poesia que Schiller chamou de "sentimental". Michelle Campos não deixa de nos relembrar isso: "As palavras ainda me são mais fáceis. Que eu, você, espelhos, tudo". Da impossibilidade de comunicação brota muito de seus versos (característica de nosso mundo pós-moderno, com tantos celulares e internet e pouca comunicação real?). Assim ela diz, numa crueldade irônica: "Ele viu o espelho, ela viu o reflexo. E isso resume tudo".
O drama sentimental é sempre retomado, como ao traduzir a letra da música de Serge Gainsbourg, "Je t'aime, moi non plus", quando a poeta afirma, sem mais, nem menos: "Eu te amo,/ mas não mais". As dores da vida são ditas, linha por linha, numa coragem sem fim: "Hoje vesti o vestido lindo./ (...) Mas a tristeza... a tristeza em nós,/ de laços de fita, ovula uma sangria desatada".
Cura para a vida? Ironiza a poeta sobre suas possíveis saídas: "... e assim se deu minha cura (?)/ uma dose de verdade e um coração comprimido!". "Procuro todos os meus amigos e me abandono e em todos os copos ignoro meus deveres, visto elmo e armadura e lança na mão? ... Ou vou dormir insana, agoniada e masoquista e toco-me aflita." Como se não houvesse saída, apenas o poema pode existir, este que lemos.