Sinopse
Após presenciar vezes seguidas esse esforço vão, notei que meus olhos enxergavam por nós dois. A cegueira do pai via em mim, incandescia, deixando uma lucidez que encheria meu espírito com seus estilhaços: seu corpo, sua história, sua escuridão, potência. Tíbio em um corpo vergado, meus olhos se apequenaram ante um pai que se tornava excesso: um bebê, um regresso. Quando eu fechava os olhos, habitava por instantes o pai, sabendo que a porta de saída estava ali, em mim, sujeita a meu querer. Bastava abrir os olhos para abandoná-lo em seu corpo, seu fado: um bunker sólido. O pai tornara-se um monólito, inexpugnável como sempre fora. E na manhã em que ele não mais existiria, visitou-me em sonho: passos firmes, corpanzil, feliz. Abraçou-me até o mundo sair de sob meus pés: um voo.