A VORAGEM DO OLHAR

A obra de José de Alencar é, sem dúvida, um dos marcos constituintes de uma literatura que se pode chamar de propriamente brasileira. Por isso mesmo, tem sido objeto reiterado de nossa crítica, sendo submetida no curso da história a constantes reavaliações, que são, por sua vez, outras tantas expressões do aprofundamento das pesquisas e das mudanças de enfoque teórico nas aferições artísticas e literárias. O presente trabalho, A Voragem do Olhar, é, nesta seqüência, uma repesagem contundente que o processo crítico de hoje, armado de seu instrumental, faz de uma das mais significativas obras do romancista cearense. Senhora, como mostrou brilhantemente Antonio Candido, é um texto da maior riqueza social e psicológica, mas os elementos de sua originalidade não se esgotam aí. A sua arquitetura e a sua linguagem, que integram elementos de organização teatral e cruzam pontos de vista narrativos num tecido imagístico que induz o leitor implícito a um olhar voyeurista, servem magnificamente ao perfil de mulher que, como em Lucíola e Diva, José de Alencar desenha com mão de mestre, que Regina Lúcia Pontieri põe em relevo com aguda sensibilidade crítica e qualidade de escritora.