Sinopse
Joaquim Manuel Magalhães regressa com um novo livro de poesia, 8 anos volvidos sobre a publicação de A Poeira Levada pelo Vento. Os poemas de Alta Noite em Alta Fraga são de um lúcido e dilacerante desencanto, uma descrição nua e crua do desacerto do mundo. « Cada próspera cidade tem no seu meio / uma cidade de subnutrição, crianças mortas, / desalojados, desemprego. E em cada cidade / das mais podres há, num aro de metralhadoras, / uma cidade da tecnologia , rara / costura, sobre finança, e medo // (...) os materiais falsificados que fracassam / a selva da rua que parece sorver calor. / Ninguém acerta o relógio por um sino. // A dura redução da diversidade / dos animais e da ramada no alvejado / ambiente de todos os dias, / o aquecimento dos elementos em redor / de cada extensão do mundo / a multiplicada intransigência das igrejas. / O dano morto da linguagem, um temor volátil, uma combustão / em séculos que principiam a ser desaparecidos. / Todo o passado se perturba / na inundação futura.»«De facto, mais do que o seu exaustivo inventário das devastações e degradações do tempo em que vivemos, o que torna este livro de Magalhães quase irrespirável é adivinhar-se, em quem nele fala, um coração tão dilacerado que já não dispõe de um pequeno lugar ileso onde possa acolher o breve relâmpago dessa flor da buganvília. O mundo não tem absolvição possível, e já nem a beleza que sempre espreitará entre as ruínas pode agora ser invocada como circunstância atenuante.»Luís Miguel Queirós, Público, Mil Folhas«De modo certeiro, estes poemas visam o nosso tempo, pobre mundo tão à mercê, descarnado por mão artríticas mas vorazes a esfolar a terra. A arte do autor é fazer o relato da hecatombe que pouco a pouco vai fazendo de nós zombies no meio dos automóveis, sem que nada de ideológico polua essa denúncia. Apenas a tristeza de um grande poeta arrepia cada verso, contaminando-o da febre letal de quem não queria/acordar nunca, esquecido na rasura/dos lençóis. O empurrão da voraz claridade.»Fátima Maldonado, Expresso, Cartaz«Numa época em que a literatura é mais contemplativa e desencantada, vagamente irónica, distraidamente crítica, aconchegada ao linho branco de uma melancolia sem azedume, a poesia de Manuel Gusmão e de Joaquim Manuel Magalhães destoa, irrompe, desarruma, ou mesmo agride. Há aqui algo a que estamos pouco habituados: uma veemência extrema, uma exigência radical, um desejo de pensar e sentir o mundo de alto a baixo, no seu espanto e na sua fundura..»Eduardo Prado Coelho, Público, Mil Folhas