CINEMA CONTRA CINEMA: O CINEMA EDUCATIVO DE CANUTO MENDES (1922-1931)

As décadas de 1920-1930 foram especialmente importantes para o cinema brasileiro. Felizmente, vários historiadores têm se interessado pelo tema e muitas pesquisas têm sido realizadas sobre os primórdios da filmografia no país. Este livro de Maria Eneida Fachini Saliba sobre Canuto Mendes de Almeida mostra, com especial competência e sensibilidade, o empenho do jovem roteirista e diretor de cinema para estimular a “sétima arteâ€? no Brasil. Partindo de uma perspectiva muito peculiar, Canuto defendeu o filme educativo, não só para neutralizar os efeitos do “mau cinemaâ€?, aí incluindo os filmes de Hollywood, mas também como meio de comunicação essencial para reformar a sociedade. Dominando as técnicas básicas do filme mudo e contrariando a reação negativa que a introdução do cinema provocou em setores mais conservadores, Canuto foi um dos pioneiros na valorização desse novo meio de comunicação para fins educativos. Um dos grandes méritos da autora deste livro é ter conseguido realizar uma análise bem equilibrada da trajetória de Canuto, mostrando tanto suas contribuições cinematográficas, como os aspectos mais ambíguos, relativos, sobretudo, ao caráter nacionalista e moralizador de suas propostas. Enquanto vários de seus companheiros de jornada ocuparam cargos públicos ou se valeram das benesses do poder para produzir filmes batizados pela ideologia estadonovista, Canuto não se identificou com o projeto cultural do Estado Novo, de viés autoritário, apesar das aberturas oferecidas aos intelectuais pelo Ministro Capanema. A trajetória de Canuto Mendes mostra que a reflexão sobre o uso educativo das imagens até hoje não avançou muito, num cenário escolar onde predominam as formas tradicionais, que, no máximo, ainda reduzem as imagens ao universo verbal e aos seus códigos culturais. Esta reflexão final da autora, por si só, justifica o enorme interesse do leitor pelo estudo que ela realizou.