ECOS DA VIOLÊNCIA: NARRATIVAS E RELAÇÕES DE PODER NO NORDESTE CAN. ...

é o resultado de uma pesquisa realizada por Geovani Jacó de Freitas durante o período em que participou da equipe da Fase (Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional), atuante no início dos anos 90 no complexo agroindustrial nordestino. O pesquisador foi testemunha das transformações econômicas que se intensificavam na região, gradativamente desde a criação do Proálcool, nos anos 70. A reestruturação produtiva do complexo canavieiro e a conseqüente crise social - agravada pela ausência de projetos alternativos de desenvolvimento e por novos padrões de seleção de mãos-de-obra - empurravam uma grande massa de trabalhadores para o desemprego, enquanto tantos outros continuavam no campo sob condições precárias. Nesse cenário, Geovani pôde observar o crescimento de atos violentos, apesar de muitos estarem escondidos por uma cortina de silêncio. Através de relatos orais e contos populares, o pesquisador conseguiu inventariar a memória da violência da região para assim alcançar seu objetivo: elucidar os valores e visões de mundo construídas pelos trabalhadores canavieiros em Alagoas sobre a violência, tanto simbólica quanto física à qual estão submetidos. Descortinar a cultura da violência no campo só lhe foi permitido ao passo que confrontou as construções de significado do silêncio. A violência estaria tão banalizada que se tornou naturalizada? O silêncio seria explicado por uma ausência de discurso e mobilização inerentes a esses trabalhadores? O silêncio seria apenas uma forma de fugir do encontro marcado com os capangas da região?