Sinopse
Na casa em ruína, uma fotografia pálida pendurada na parede revela o trabalho lento e incansável do tempo. Na casa resta pouco, quase nada além da velha, que parece estar ali esquecida; ela perde os dias na poltrona, eternamente rabiscando e apagando letrinhas sem sentido num papel. Resta também a menina, que cuida da velha, da casa, das manchas na parede. As manchas que a luz do sol tinge nos quadros, apagando rostos e desbotando a tinta à volta das molduras. Queimando cores e inscrevendo, uma vagarosa erosão, a ausência ao redor da casa. A ausência e o abandono se revelam substância viva, pulsante, quase tátil, na casa onde móveis, personagens e histórias desaparecem gradualmente deixando seus rastros e vestígios. Com sensibilidade, Raïssa de Goés escreve sobre a matéria difusa do esquecimento e da memória, numa história pungente em que o que foi apagado e esquecido se revela com força em toda sua existência fantasma.