Sinopse
Montaigne compõe uma crítica radical aos governos, partidos, Estados, sociedades, leis e justiça; mas, tendo em vista a paz pública, não os abandona; ao contrário, adere plenamente aos costumes por constatar que não há outra base melhor. Durante muitos anos, Montaigne vivenciou matanças, execuções e torturas. Quase metade da sua vida desenrola-se sob a égide da violência dos partidos e das facções. Conforme o ensaísta, as paixões políticas e religiosas podem nos tragar, mas, de alguma forma, devemos nos posicionar politicamente e atuar partidariamente; daí a importância do equilíbrio e da mediação. Porém, é possível um mundo humano sem vícios? Nesse sentido, extirpar as paixões humanas, aí inclusas as políticas, não é senão extirpar o próprio ser humano. Quem desarraigasse o conhecimento do mal estaria extirpando, ao mesmo tempo, o conhecimento da voluptuosidade e, por fim, aniquilaria o próprio homem. A política é um componente da vida social, a paixão política, própria dos homens, e a justiça, "engedrada para a sociedade e convivência dos homens". Montaigne considera que viver fora da política é viver fora da humanidade, e ele não se omite das funções públicas, às quais se dedica. De fato, Montaigne foi mediador político, conselheiro da Corte de Impostos de Périgueux, conselheiro do Parlamento de Bordeaux, fidalgo de gabinete do rei e, ainda, prefeito da cidade de Bordeaux, em dois mandatos. Sobre seu túmulo, há uma armadura de mármore que traduz bem a dedicação política de um cético pirrônico que, em meio à guerra civil, assume perigosas responsabilidades. Nunca é demais, portanto, destacar sua importância como homem público.