Sinopse
Através de um relato delicado e dilacerante, João, de apenas 11 anos, descreve as dores e desamparos de um cotidiano marcado por uma sucessão de abandonos. Esse jovem narrador apresenta liricamente e cruelmente um rol de personagens que permaneceram fora da festa da vida, pois são seres-refugo normalmente invisíveis devido às táticas de amnésia social que permeiam nosso analfabetismo afetivo contemporâneo. Alijado de um script de felicidade, o menino vai à luta nas suas diversas estratégias de sobrevivência diante de uma sombria orquestração de dissabores e humilhações. Mas é justamente no interior de tanto sofrimento que João busca uma aprendizagem pela pedra. Ou melhor: uma educação pelo beijo na parede.Deparar-se com a inexorável concretude de um muro frio é um ato de resistência e coragem para seguir em frente mesmo que o choque iminente possa causar consequências devastadoras. Desde muito cedo, esse herói pueril aprendeu a combater as gigantescas paredes que são construídas violentamente e velozmente. Como um verdadeiro escapista de um devir emparedado, o narrador implode os determinismos de um meio social no qual ele estaria fadado ao aprisionamento identitário. E é assim que chegamos à gramática existencial do nosso jovem narrador: sim, é possível o pranto se metamorfosear em grito de obstinação, de alegria, de resiliência.