O OLHO VESGO

Por entre os curtos e incisivos textos de Tiago Mussi, o leitor que não tenha pressa vai descobrindo uma relação surpreendente: para além da representação de uma realidade crudelíssima, aquela dos ódios, das obsessões, dos gestos sem motivações aparentes, o que os enlaça é uma busca, também cruel, pela própria possibilidade de representação.O que se pode dizer com a linguagem da escrita a respeito das relações com o mundo? Qual é a medida do dizer que, sabendo despertar conteúdos, se conserve nos limites estritos de uma semântica da explicitação?Mesmo a partir do primeiro texto, o viés baudelariano da dedicatória a Gautier, ou a presença na epígrafe do evasivo e circunscrito Dalton Trevisan, percebe-se na escrita de Tiago Mussi o desejo de tornar a literatura, quer dizer, a ficção da linguagem, um jogo de limites entre a consciência de uma psicologia apanhada nos intrincados desvãos dos vícios e das taras e a serenidade possível de sua expressão verbal.