O TEMPO EM ESTADO SÓLIDO

A mulher que volta para casa depois de muitos anos para o enterro do pai; a moça de rosto maquiado que esconde o vestido extravagante com a capa de chuva, no ponto de ônibus, ainda que não chova; no mesmo dia em que se conhecem, ele a convida para ir para a África. As personagens das dezoito histórias do livro deparam-se com a solidão, o ciúme, a morte, o sexo, o mundo contemporâneo que as modifica e que é modificado por eles. Errantes, desejam se consertar; enigmáticos, tentam se decifrar. Alguns reaparecem em mais de uma história, ora protagonistas, ora tangenciando-as, figuras secundárias, compondo uma teia de encontros e desencontros sempre permeada pelo tempo. O tempo interno de cada um se contrapõe ao tempo externo e real, tão implacável que os tornam outras pessoas, às vezes ao longo dos anos, às vezes no instante. Como contraponto a esse tempo bruto, a autora tece suas tramas com delicadeza. O homem acompanha por quilômetros a mulher no teto solar da limusine, perguntando-se se seria a antiga namorada. E ainda que fosse, não seria. E ambos, de alguma maneira, sabem disso.