O VIAGEM DO LIBERDADE

É difícil supor que Joshua Slocum ousaria lançar-se à aventura da navegação em solitário ao redor do mundo - tornandose o primeiro marinheiro a completar a façanha - se, oito anos antes, não tivesse passado pela experiência dramática e ao mesmo tempo extraordinária do naufrágio em Paranaguá, no Brasil. 'A viagem do Liberdade' é o diário de bordo deste marinheiro, que descreve os acontecimentos vividos não só a partir do momento em que se viu sem barco e sem dinheiro nos ermos do Brasil, acompanhado pela mulher e por dois filhos do primeiro casamento, como, na verdade, tudo o que se desenrolara desde o instante em que o malfadado Aquidneck zarpara de Nova York, em fevereiro de 1886. Boa parte da aventura se passa no Brasil e também por causa do Brasil. Embora o l e n d á r i o c a p i t ã o s e emp e n h e em propagar uma visão elogiosa do país e de seus habitantes, foi devido ao desleixo das autoridades portuárias de Paranaguá que ele perdeu o barco no Natal de 1887 e se viu na contingência de sair novamente aos mares em uma diminuta canoa, construída com as madeiras do Paranaguá e bambu, e com velas costuradas por sua mulher. A canoa, na qual a família Slocum navegou de volta mais de cinco milhas, do Paraná até Washington, foi batizada de Liberdade, assim, em português, porque foi lançada ao mar em 13 de maio de 1888, dia em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Essa experiência possibilitou a Slocum empreender a viagem que deu origem à lenda que, relatada em primeira pessoa no livro Sailing alone around the world, veio a influenciar escritores como Jack London e Mark Twain.