Sinopse
Coéforas: ?portadoras de libações funerárias?. Que têm em comum a vida e a morte, os vivos e os mortos, que os une de modo inextricável? A unidade que os une é similar à inesperada e espantosa unidade que se observa entre ser e não-ser, unidade que no Sofista de Platão se impões como condição necessária à captura conceitual do sofista. Similar não é idêntico. Idêntico é o mesmo, em qualquer sentido; similar é, ao mesmo tempo, idêntico e diferente, o mesmo e o outro. Mas o que há de idêntico nessa similaridade entre o que se vê nesta tragédia de Ésquilo e o que se lê nesse diálogo filosófico de Platão? Admitida a hipótese da correlação entre a noção mítica de Theoí (?Deuses?) e a noção filosófica de ideai/eíde (?idéias?/?formas inteligíveis?), aos Deuses Olímpios pertencem os diversos domínios do ser, por partilha de Zeus e o por participação em Zeus; aos Deuses ctônios, filhos sombrios da Noite imortal, pertencem os diversos domínios da negação de ser e da privação de presença. Que unidade os une? Eis o que se põe em aporética questão e assim se mostra em cena terrível e sublime, nesta tragédia. Interpelado por Apolo em diversas circunstâncias, e em Delfos pela voz do oráculo, a Orestes é o dever filial mesmo que impõe de modo irrecusável a execução da pena de morte contra a sua própria mãe. Os caminhos a serem percorridos por Orestes nessa aporia existencial mostram o nexo necessário, múltiplo e ininterrupto entre os diversos domínios de Phoîbos Apóllon, o Deus profeta de Zeus em Delfos, e os não menos diversos domínios das sombrias e subterrâneas Erínies, Deusas filhas da Noite imortal.