QUANDO O DINOSSAURO CAIR DO CÉU OS METEOROS SERÃO EXTINTOS

Logo de início, você topa com um chuveiro levado para passear; em outra página, com a Boca atravessando uma esquina; mais à frente, uma formiga tira da bunda um frasco com uma poção de encolhimento; avançando ainda, um soneto com quatorze pedaços de um corpo esquartejado; outras páginas além, um cheirador de livros... Essas e outras imagens, cenas e personagens atravessam os contos de Diogo Aloni reúne no inesperado Quando o dinossauro cair do céu os meteoros serão extintos.Insólito, absurdo, fantástico, delirante, surreal poderiam ser termos que se acoplariam àqueles elementos e às narrativas, formando um clichê. Tentando fugir a isso, encontro o inesperado pela surpresa - tanto quanto um dinossauro caindo do céu, invertendo a razão e a própria teoria que busca explicar a dizimação dos grandes lagartos.Se fosse preciso uma 'chave' para ler esses breves 24 contos, a da reversão de expectativas talvez bastasse: a cada narrativa lida, um pequeno estranhamento, um rápido golpe (no bom sentido, nestes tempos de tantos golpes). É isso: o leitor é golpeado com aquelas imagens, a princípio incomuns, e levado a contruir um desvio do real. Um mundo literalmente de pernas para o ar e com muito sentido!Os textos breves e concisos de Aloni (descarnados mesmo, como o autor) vão direto a essa revirada da realidade, sem aviso, sem preparar o leitor, que aos poucos vai se habituando. Cada conto tem um grão de lucidez envolvido por uma massa incorpórea que escapa à tangibilidade. Também nem precisa: o inesperado é assim mesmo.A leitura dos contos de Diogo Aloni ainda me fazem relembrar da antiga lição de Antonio Candido e a referida função humanizadora da literatura. Em uma época profunda e paradoxalmente bárbara e civilizada, a leitura tem o papel de confirmar no humano o que se reputa essencial: estimular o exercício da reflexão e contribuir para a percepção da complexidade do mundo/ de um mundo.Em seu livro de estreia, acredito que Diogo começou essa realização. Luiz Morando