Sinopse
Histórias de terror quase sempre descambam para os diversos clichês que o gênero tem a oferecer. O principal deles, claro, é a opção pelo susto fácil. O segundo clichê é fazer com que o leitor acredite vorazmente em fantasmas, forçando aparições abruptas de entidades do outro mundo nos textos. André Balaio trabalha justamente na contramão dessa fórmula no livro de contos Quebranto (Patuá).Ele oferece ao leitor possibilidades, propõe caminhos, joga o espectador para caminhos distintos através da aparente simplicidade narrativa.É impossível não lembrar do clássico Histórias Extraordinárias, do Edgar Alan Poe. Mas os contos do Quebranto vão por outros caminhos. Se em Poe o leitor já sabe desde a primeira linha se tratar de conteúdo puramente de terror, André faz justamente o contrário.Em nenhum dos textos fica claro no início o objetivo por trás dos enredos aparentemente comuns. Isso porque ele trabalha com uma técnica já bastante usada, mas que só alguns bons prosadores sabem fazer de forma correta, que é a de conduzir o leitor por uma suposta normalidade, contando algo por vezes simples, histórias banais, para de uma forma sutil e eficiente fazer a reviravolta, pegando o leitor de surpresa e deixando-o sem fôlego até o desfecho.Tudo embalado com leves toques que o gênero permite, sem fazer disso uma regra na construção das tramas.São pequenas armadilhas jogadas traiçoeiramente pelo caminho causando pequenos assombros até nos mais incrédulos. Não são os sustos seguidos dos gritos histéricos dos filmes de Hitchcock, muito menos as narrativas de terror mais pesadas dos livros de Stephen King do começo da carreira do autor americano.Mas o medo do desconhecido em sua mais alta complexidade, por conta do componente humano, com personagens bem construídos, passando a sensação de real por trás dessas histórias de ficção. O racional e o irracional, o explicável e o inexplicável, o visível e o invisível, a dúvida e a certeza andando de mãos dadas.