Priscilla akao Mori
Depoimento escrito pelo aluno Silvio Antonio Gomes dos Santos Filho, na passagem do 1º para o 2º ano de Medicina da Unifran. Atualmente, ele cursa o 5º ano.
Meu livro foi O 11º mandamento, de Abraham Verghese. Não fazia ideia do que se tratava, até pesquisar: “Moisés escreveu dez, não 11 mandamentos”. Fiquei pensando nisso, mas não me esforcei muito.
Devo dizer, adiei o livro o máximo que pude, porque tive de viajar, malhar, dirigir, ler outras coisas, rever amigos, jogar, assistir documentários e filmes. Usei tudo como desculpa mas, na verdade, eu ainda tentava digerir A Torre Negra, que me custou quatro anos para ser terminada (sete livros). O livro ficou lá, na estante, solitário. Então, no final das férias, decidi lê-lo.
Logo no primeiro capítulo, me deparo com um personagem – Marion Stone – que me fez pensar em mim mesmo. Marion é cirurgião, arte que pretendo praticar. O livro tem diversas frases de efeito – aforismos – em relação a cirurgias. De todas, uma vou guardar para sempre, antes, durante e depois de qualquer procedimento cirúrgico: “A operação mais bem sucedida é a que você decide não fazer”. Observe, releia a frase, sinta a profundidade. Dita por um cirurgião, ela não deprecia a arte de manipular instrumentalmente o corpo do paciente, muito pelo contrário, valoriza aquele momento antes da cirurgia em que o médico pensa: “será necessário o procedimento?”.
Quando comecei o livro, não sabia exatamente o motivo de querer ser cirurgião. E me peguei, novamente, lendo uma história sem conseguir parar, sem conseguir me desvencilhar. Enxerguei o que Marion contou, senti sua raiva, sua alegria, sua insegurança, tudo. Percebi que, apesar de não ensinar Medicina, o livro ensina Medicina. Não nas partes em que aborda doenças, intervenções cirúrgicas, sinais e sintomas. Mas sim quando fala da relação médico-paciente.